Estou tão bem aqui,
tudo é belo e tão claro!
Não me importo
e nem sei se deveria,
em ser assim tão solitário.
Vejo o vale pequenino,
cabe na palma da minha mão.
Tão distante e singelo
como pode ser tão belo
a vida longe do meu coração?
Aqui em cima fiz meu mundo,
minha regra e minha lei.
Como em Pasárgada,
lugar que há tempos visitei,
aprendi e fiz-me rei.
Tornei-me nobre, inabalável,
mesmo caindo a fina chuva
que no meu rosto
esconde as lágrimas
da covardia que me curva.
Bato palmas para meu verso
retribui a plateia vazia
a que me apresento.
Meu espelho já não reflete
as mágoas que deixam o Tempo.
Aqui tudo é linear, perfeito:
caneta, papel e um cinzeiro.
Na fumaça vejo-o passar sorridente
vagaroso, demente,
na cadência de um velho pesqueiro.
Espalhando meus poemas,
embriagando-me do vinho
de décima safra
dói como afiada lâmina
que a minha tenra pele marca.
O Tempo, ah o Tempo!
Que meu ego ignora…
Aqui no topo é tão belo,
ansioso espero
o nascer de cada aurora.
A verdade é que tenho medo,
medo da reciprocidade.
De que um dia ao te ver sorrindo
tu me derrube, eu distraído,
na minha torre de verdades…
que só existe em minha cidade.