Não, meus versos não são
para teus olhos rasos,
que veem na vida
uma sequência de acasos
quando na vida
nada acaso é.
Meus versos são
para os que à beira-mar
agradecem conscientes
de que o sopro da Terra
que infla seus pulmões
vem de outro continente.
Não, meus olhos não são
para teus versos rasos
de quem sempre teve tudo
e a felicidade tornou-se banal.
Meus olhos são
para almas famintas
e solitárias
que de ti, rude,
nem o brilho no olho é igual.
Não, meus versos não são
para teus olhos rasos.
Quero alma inflamada
em um corpo febril.
Feche-me, rasgue-me,
pois não quero roubar-te
de tua miudeza.
Quero quem olhou
no fundo dos olhos
da tristeza
e sorriu.
Não, meus olhos não são
para teus versos rasos,
meus versos não são
para teus olhos rasos,
me deixe com a melancolia
que tanto me faz bem.
Vai, espera a noite
para olhar as estrelas…
monte relutante,
abundante de asneiras,
que ignora que o Sol
é uma estrela também.